A crise, de novo!

Hoje uma boa amiga do Brasil me escreveu um email falando da prima dela que vive em Paris e que também não consegue ver lá a tal crise que os europeus choram constantemente nos meios de comunicação.

Aí escrevi o texto abaixo para ela. Achei interessante e resolvi colocar aqui.
Desculpem algum erro, mas foi tudo feito de uma assentada...

"Fala Coração
Tenho uma linda priminha que está morando em Paris. Ela escreveu em seu blog sobre a crise por lá. Ela, assim como vc aí em Portugal, tb não consegue vê-la na prática.

Veja o último texto que ela escreveu nessa página do seu blog:


Mas será que tudo que a gente houve por aqui é mesmo exagero???!!!!!

Bjo,




Oi

Depois vou ler o blog dela sim, amiga, obrigado pela informação.

Quanto ao que vcs vêem aí estar tudo exagerado, não, não está. Está exagerado na mídia em TODO lugar. Já te falei sobre os mercados e lojas lotados de gente comprando, certo? Pois hoje saiu no jornal que houve uma brutal queda nos gastos em dezembro, obviamente sinal da crise. Sabe de quanto foi a brutal queda??! Cinco porcento. Cinco!! Num país que faliu!! Onde cortaram os salários dos funcionários públicos, cortaram o 13º da galera toda e aumentaram violentamente os impostos. Caiu APENAS 5%. E eles choram isso com uma pressão danada! Esta é a crise deles. Ocupação dos hotéis numa região turística famosa daqui (ilha da Madeira) durante o ano novo? Mais de 80%. Foi uma enorme queda, porque era costume ter 100% de ocupação. Mas pense bem, tem que pegar avião (fica nas costas da África), alugar carro ou andar de táxi, pagar hotel e tudo o mais. E caiu só 20% a ocupação de ano novo!

Eles mantiveram um padrão de vida exageradamente elevado por décadas. Aqui e em vários países da Europa. Agora, ao não poderem trocar de carro (os dois ou três que todas as famílias têm - Portugal tem 10 milhões de habitantes e 7 milhões de automóveis! E não produz uma única gota de petróleo e 90% dos carros aqui são importados) todos os anos estão fazendo beicinho e chorando a grave queda do nível de vida. Tem crise? Claro, havia centenas de empresas sem a menor possibilidade de concorrer no mercado, com salários inflados, custos trabalhistas elevadíssimos, horas de trabalho mínimas, produtividade mínima, que sonegavam violentamente os impostos. Agora estão fechando o cerco à sonegação, aumentaram os impostos e com isso as empresas perderam a pequena margem de manobra que tinham. Muitas estão fechando. Para as pessoas que realmente estão no desemprego será um processo penoso, isso após os 18 MESES de salário desemprego. Há muitos casais que perderam os empregos. E estes estão sofrendo bastante. Mas é de longe uma minoria no país. O padrão de vida de Portugal ainda está MUITÍSSIMO acima das capacidades deles e também muitíssimo acima da produtividade deles em termos de tudo.

Minha opinião é de que eles vão ter que ter uma recessão com queda do PIB de uns 20% antes da realidade efetiva ser alcançada. A Grécia está atingindo estes patamares agora, mas lá o buraco era muito mais embaixo do que aqui, portanto, talvez tenham que perder uns 30 ou 40% do PIB antes de chegarem à verdade dos fatos.

Agora, a crise deles é MUITO diferente daquilo que os brasileiros entendem por crise. Com tudo isso, por tudo isso, não vejo gente preenchendo os lugares de sub-emprego que há aqui aos montes. Estes seguem sendo executados por brasileiros, africanos e pessoas do leste europeu. E sobram empregos de meio período, pois vejo as plaquinhas nas lojas a pedir empregados. Ninguém quer. Querem empregos, sim, mas de chefe, com bons salários. 

Esta é a crise européia. E só vai realmente acabar quando houver uma drástica mudança na forma de pensar, deixando o socialismo de lado e adotando um capitalismo que eles aqui simplesmente desconhecem. Ou eles adotam o capitalismo real – com seus custos sociais, infelizmente – ou vão quebrar de vez. Países como França, Holanda, Alemanha, Suíça e etc vão conseguir se manter por muito mais tempo em alto padrão devido ao capital acumulado ao longo de séculos, além de terem grande capital intelectual (grandes empresas detentoras de patentes e multinacionais). Outros como Itália, Espanha, Portugal, Grécia e etc vão quebrar rapidinho. Viveram um boom de décadas baseado num consumo explosivo muito além de suas capacidades, à base de crédito. Só que uma hora alguém se pergunta: afinal, como estes caras vão pagar esta conta que nunca pára de aumentar? E nesta hora, bum!, fecham a torneira e as pessoas e as empresas, e o Estado, vão à falência.

Diga-se de passagem, o caminho que descrevi no último parágrafo é idêntico ao que o Brasil está seguindo agora. Quem conhece a história recente dos países mencionados poderá ver um paralelo impressionante entre as políticas financeiras e monetárias deles nos últimos 10 a 15 anos e o que o Brasil vem adotando desde 2008. O resultado também será idêntico, mitigado no nosso caso em parte pela possibilidade de desvalorização cambial, mas sem termos, por outro lado, o colchão enorme que é a união dos demais países para ajudar.

Beijinhos.

Coração"

PS: ainda não tive tempo de ler o tal blog, portanto, desculpem se lá não for tão bom quanto aqui!! kkkk 


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